HIBRIDISMO NO TRABALHO UM NOVO CENÁRIO PROFISSIONAL
Até 2020, a rotina era a mesma para a maioria das pessoas: acordar, tomar banho, escovar os dentes, preparar o café, arrumar as crianças para a escola, escolher a roupa do dia, ir para o trabalho, trânsito, fila do elevador, ligar o computador e dar início a mais um dia de trabalho.
Com algumas mudanças de roteiro, todos cumpriam um certo protocolo de transição entre a casa (privado) e o trabalho (público), ocupando cenários diferentes e até personas diferentes, como se um ficasse protegido do outro. Muitos tinham como regra não levar trabalho para casa e nem tratar de assuntos de casa no trabalho. Algumas empresas, inclusive, não viam com bons olhos quando os funcionários usavam o celular para resolver alguma demanda doméstica.
Depois de 2020, no entanto, para que os setores produtivos não parassem por completo, em face da necessidade de distanciamento social, decorrente do fenômeno pandêmico do Covid-19, novos protocolos foram estabelecidos e a tecnologia mostrou toda a sua eficiência e versatilidade. O mundo empresarial rendeu-se ao trabalho home office.
O primeiro e mais significativo impacto se deu na rotina do lar: acordar, escovar os dentes, ligar o computador, preparar o café, arrumar as crianças para a vídeo aula, olhar no espelho (será que vai precisar ligar a câmera?), entrar na reunião on-line, ver que tem mais gente descabelada e dar início a mais um dia de trabalho.
A pergunta número um era: quando tudo voltará ao normal?
Independentemente das questões ligadas à propagação do vírus, motivo central para a adoção do trabalho home office, a experiência trouxe novos entendimentos sobre trabalho, produtividade, custos e bem-estar. O “normal” foi colocado em xeque.
As pessoas começaram a se perceber mais produtivas, pela garantia da sua individualidade, maior personalização do espaço de trabalho e por sentirem-se mais presentes na rotina doméstica.
As reuniões passaram a ter mais foco, os atrasos acidentais foram controlados e a possibilidade de reunir mais colaboradores em um único evento, facilitou os processos de comunicação, otimizando o tempo e assegurando que todos recebam a mesma informação.
No mundo virtual, quebra-se o paradigma do espaço geográfico, uma grande vantagem para as empresas, que podem ter em seus quadros, pessoas residentes em qualquer parte do mundo, aumentando a diversidade cultural do seu “staff”, incrementando a troca de experiências e ideias.
A pergunta número dois: será que nunca mais vamos nos encontrar?
A ideia de impessoalidade do mundo virtual, sempre esteve na pauta dos profissionais. Apesar de todas as vantagens que se possa relacionar, em favor ao trabalho home office, o encontro físico não deixou de ser importante, até porque se trata de uma perspectiva humana.Com o trabalho home office, o tempo para a família e para si mesmo ficou muito maior e, embora o público e o privado tenham se misturado, acabou-se criando uma agenda de equilíbrio. Contudo, os profissionais se ressentem da ausência de relações sociais, que o dia a dia de uma empresa proporciona. Aquela dúvida que você tira, simplesmente indo até a mesa do seu colega, a solução que alguém te dá na hora do café ou a notícia de um novo cliente, que você recebe durante a espera do elevador, muitas vezes precisam esperar um encontro em determinada plataforma on-line. O trabalho híbrido, de certa forma, preenche essas lacunas e conserva a socialização própria do trabalho presencial.
Aprendemos muito nos últimos tempos. Percebemos que podemos conciliar trabalho e vida pessoal e o quanto a espontaneidade e o tempo maior de intimidade proporcionam experiências positivas em nossas vidas. O equilíbrio de prioridades traz o equilíbrio interno de que precisamos.
As empresas discutem novos modelos organizacionais. Na mesa estão o mix cultural, rotinas, locomoção, os conceitos de individual e coletivo, plasticidade de pensamentos e bem-estar. Os novos modos de atuação forçaram uma grande reflexão sobre os espaços de trabalho e o hibridismo é um dos pontos centrais dessa análise. Um avanço que deverá permitir a humanização do trabalho, com espaços para o crescimento profissional e, sobretudo, pessoal.
Um novo cenário profissional se apresenta, onde, entre acordar, cuidar dos afazeres e trabalhar, cabe conviver com a família, conversar com amigos, ter momentos de lazer e de autocuidado.